Complexo de vira-lata: “Malandro é malandro, mané é mané”. Será mesmo?
Tem pouco tempo que ressurgiu essa expressão “complexo de vira-lata” para se referir ao comportamento do povo brasileiro que foi empregada por Nelson Rodrigues. Mas o que ele quis dizer com ela? Ele quis demonstrar que o brasileiro é um povo que tem um narcisismo às avessas, um complexo de inferioridade frente aos outros países e menospreza a sua própria imagem. Na verdade, o escritor afirma que não tem nenhuma razão para que essa baixa estima exista.
O interessante é que essa expressão ainda causa choque e impacto em muitas pessoas, mas ao mesmo tempo nada se faz para mudar nossa realidade cruel de estima pouco elevada sobre nosso povo, nossa cultura e nossas etnias.
Não se pode esquecer de mencionar a grande necessidade que o brasileiro possui em ter que se autoafirmar como: “Sou brasileiro mas meus avós são estrangeiros”, ou seja, como isso demonstra que o brasileiro não aceita a sua nacionalidade brasileira,inclusive precisa “conquistar” a dupla nacionalidade porque nosso povo não se percebe como brasileiro de fato e não tem uma verdadeira sensação de pertencimento ao grupo ao qual faz parte. Essas atitudes demonstram o quanto o brasileiro é um ser com um furo muito grande sobre a sua identidade, sobre quem realmente é.
Fico pasma porque eu acho que as pessoas não entendem o que eu compreendo sobre o que é um vira-lata. No meu ponto de vista, ser um vira-lata não é nada negativo apesar deste termo ter sido usado dentro da expressão “complexo de vira-lata”. Mas, se analisarmos bem, somos vira-lata porque somos um povo mestiço, assim como o cachorro vira-lata. Não somos um povo de etnia pura, como um cão de raça pura, Não é verdade? Então, quando falamos que todo brasileiro é vira-lata, estamos nos referindo a fatores genéticos.
Sem falar que ao nos definir como vira-latas, nós ficamos livres de sermos classificados como pertencentes a uma raça e excluídos de outras, até porque o vira-lata é composto de várias raças, é mais livre para ser e viver o que ele quer do que aqueles que precisam se comportar dentro de um “padrão da raça”. O cachorro vira-lata por ter uma genética mestiça tem muito mais resistência comprovada cientificamente, isto porque ele não é tão frágil como aqueles cachorros que só cruzam entre cães da mesma raça e assim, possuem inclusive doenças típicas de suas raças.
Numa questão psicanalítica, se percebe que sobre esse assunto, o brasileiro não aceita sair do lugar de objeto e partir para a posição de sujeito possuidor de algo e ser o agente de sua própria vida, aquele que é capaz de atuar de acordo com as sua características e não de acordo com a cultura do outro. Então, se cria o complexo, o rebaixamento, o abate e a perda antes mesmo de tentar conquistar os seus desejos. O que isso quer dizer? Que já entramos com a cabeça abaixada em busca da concretização dos sonhos, demonstrando a postura de perdedor, muitas vezes.
Com isso, o que fazemos entre nós? Geramos enormes batalhas procurando a calda um do outro ou a nossa própria e nem mesmo saímos do mesmo lugar. Ridicularizamos o outro que é igual a nós mesmos, que só reflete o nosso comportamento e ficamos embrulhados em pensamentos perdidos, acreditando que as pessoas nos perseguem sendo que elas nem mesmo querem saber sobre nós. Não se pode esquecer a prisão em passados que nem mesmo nos pertenceram, em identidades que não são nossas.
Queremos buscar no exterior uma inspiração que não é nossa. Ah! Ainda tem os modismos: Numa época estava na moda imitar os franceses, agora são os americanos e assim, vivemos perdidos, nunca encaixados dentro de nós mesmos e tentando nos encaixar na nossa terra e sempre com a sensação de não pertencimento a grupo nenhum, nem ao dos brasileiros porque a pessoa faz autoexclusão e nem se sente pertencente ao grupo dos estrangeiros que tem ascendência, porque os estrangeiros sempre vão ver o brasileiro como “o brasileiro, o estrangeiro”, aquele que não pertence de verdade ao grupo deles.
Parece mentira isso, mas quando se vive, não me refiro a ser turista, me refiro a habitar um país entre estrangeiros no território deles. Quando vivenciamos essa experiência de morar num outro país é que percebemos o quanto é claro que somos vistos como estrangeiro e não como nativo daquele local, mesmo tendo parentes desta terra. Enquanto isso, aqui no Brasil, geralmente somos um povo muito acolhedor das outras nações.
E as angústias com relação à identidade? São inúmeras, mas que se tenta disfarçar atrás de posses, poses, corpos cada vez mais moldados e se aumenta cada vez mais a necessidade de ter e se esquece de cuidar do ser. É cada vez menos se cuidar e mais se perder dentro da vaidade. É tentar se iludir, mas nunca se consegue iludir quem olha no fundo dos olhos do outro e enxerga de verdade como as pessoas estão perdidas. Não porque são vira-latas, mas porque sofrem extremamente do complexo de vira-lata e não sabem como se livrar dele.
Ler e aprender sobre si mesmo? Quase impossível! Nessa realidade catastrófica em que ler mais que dez linhas virou algo cansativo demais? Imagina! Conversar com alguém de conteúdo é cansativo para o cérebro dessas pessoas que preferem a superficialidade do que uma vida em busca de conhecer mais si mesmo e os outros ao redor e aceitar o que é com naturalidade.
E a tal malandragem? Tenho que escrever sobre ela também! Sim, o que é ela? Não é essa que os corruptos fazem lavando o dinheiro, tirando dinheiro de escolas e de hospitais, isso é outra coisa, isso é um palavrão bem feio. Malandragem pode ser um hábito sadio de pessoas que sabem lidar com suas oportunidades de vida, sabia? Por exemplo: Uma pessoa que tem a oportunidade de estudar poucas horas por dia e trabalhar para sustentar sua família e chega um momento em que ela tem que escolher entre sustentar a família e continuar a estudar. Essas escolhas são difíceis, eu sei e ela tem que pensar no que é mais urgente e com toda certeza é o sustento da família. Então, ela precisa parar os estudos, mas precisa manter o pensamento otimista de que um dia ela vai voltar a estudar. Assim, chega um determinado momento em que ela provavelmente vai conseguir um emprego que remunere melhor e que a permita estudar. Nem todo mundo passa por uma vida fácil, muitas vezes esse manejo só é conquistado por pessoas que têm jogo de cintura para lidar com suas necessidades básicas e seus sonhos.
A malandragem pode ser o jeito como uma pessoa descobre que gasta três horas do seu dia no trajeto entre o trabalho e sua casa. O que ele pode fazer com isso? Ouvir música? Claro! Mas se pode aproveitar muito melhor esse tempo. A pessoa pode ler vários livros, ouvir áudiobooks que são livros em forma de áudios e assim, aprender muito enquanto se desloca. Faça a conta de quantas horas por semana se pode usar para aprender. Já pensou em quantos áudiobooks se pode ouvir?
As possibilidades de evoluir e conquistar seus sonhos são muitas, mas nem sempre as pessoas têm uma visão ampla sobre o que pode fazer com sua vida, como pode ocupar o seu tempo e acabam desprezando oportunidades de ser realizar. Se pode até mesmo fazer uma pós-graduação na hora do almoço do trabalho ou no final de semana – porque quando se quer crescer na vida, se dá um jeito, até graduação se consegue hoje através da internet. Enfim, ter malandragem é descobrir as suas habilidades, as suas ferramentas que podem ser usadas a seu favor, é não acreditar tanto no que se diz sobre o que é “impossível”, mas não se pode esquecer que, quando se tem uma vontade grande de mudar e crescer, se consegue. Não é verdade? Observe os exemplos de pessoas que você conhece que batalharam para realizar seus sonhos e conseguiram. Então, por que você não pensa em se inspirar nelas?
Outro exemplo que eu gosto muito são as projeções que podemos fazer sobre o futuro. O que você almeja para a sua vida para daqui a 1 ano, 3 anos e 5 anos? E o que você está fazendo hoje para alcançar esses projetos? Para que isso tudo aconteça, é preciso muita malandragem, muito jogo de cintura da sua parte, muita estratégia, seja lá como você quiser chamar a sua ação para que seus sonhos sejam realizados. Então, vamos encarar os fatos da vida de frente e realizar suas vontades! Quer uma ajuda? Então, venha comigo! Realizo atendimentos de Psicanálise em grupo com um valor bem diferenciado para ajudar as pessoas a conseguir realizar seu sonho de se sentir mais feliz consigo mesmas e com tudo ao seu redor, não se esqueça que você também tem a possibilidade de ter consultas individuais comigo.
Acesse o link para saber mais: https://brunarafaele.com.br/psicanalise-em-grupo
Lauro Botto
abril 10, 2018 @ 2:37 pm
Brilhante análise sobre o tema!
Pena que subvertemos o termo malandragem e não despertamos, num todo como sociedade para explorar nosso potencial e criatividade que são enormes.
Parabéns pelo texto!
Bruna Rafaele
abril 28, 2018 @ 1:08 am
Oi Lauro!
Muito obrigada por ter gostado de passar por aqui e ler meus artigos!
É isso mesmo! É uma subversão da palavra e falta de prática das habilidades que cada um de nós pode exercer.
Grande abraço
Renata
abril 30, 2018 @ 11:01 pm
Parabéns!! Perfeita análise, excelente texto, super esclarecedor!
Bruna Rafaele
maio 1, 2018 @ 2:10 pm
Que bom que você gostou da análise do comportamento e das palavras que eu trouxe!
Continue acompanhando meu blog, sempre vai ter novidades!
Grande abraço