A Educação de crianças e quem marca a Lei, uma relação com Totem e Tabu

Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2017.
Sabe-se que o Governo do Estado do Rio de Janeiro está dirigindo os alunos do Ensino Médio para ter aulas no turno noturno. Com isso, busca-se uma reflexão sobre as consequências desta mudança nos hábitos escolares dos alunos e a relação entre o papel do professor do Ensino Médio na atualidade e como está flui a Educação destes alunos. Com base no texto Totem e Tabu, Freud (1913) traz uma imagem de como foi criada a lei através do pai e como sua mulher e seus filhos que deviam respeitá-lo. O pai para Freud foi colocado como o ser que ensinava a lei e dentro desta sociedade, todos deviam aceitar seus ideais porque ele garantia a proteção da família e dos valores que ele trazia para os membros do seu clã. Logo, para Freud (1913), o pai representa a segurança, a marca da lei indicando o que é certo e o que é errado de ser cometido pelos membros do seu clã.
Se faz relevante a observação sobre o que está acontecendo na prática entre os alunos do Ensino Médio da Rede Pública do Estado do Rio de Janeiro e os adultos que são responsáveis por eles, incluindo seus pais, irmãos mais velhos, avós e tios. Se há contato mesmo que virtual entre estes alunos e seus responsáveis e como está acontecendo a transmissão do conceito de lei (Freud, 1913). Para isso, compreende-se a lei não só oferecida pelo pai, mas por qualquer membro da sociedade que queira transmitir valores morais aos demais membros do seu grupo.
Detecta-se a falta de transmissão valores morais nas famílias, de quanto há pais perdidos sem saber o que fazer com seus filhos quando surge um problema e não sabem que caminhos seguir, porque sentem dificuldade em transmitir a lei. Além disso, muitos pais e mães não sabem tomar posse do lugar de ser a lei para crianças e adolescentes e as deixam escolher livremente seus caminhos, o que pode ser um caminho sem volta no meio de mimos, drogas entre outras perdições que existem.
Mas sempre fica uma dúvida: Tem gente que acha que depois de certa idade, a criança e o adolescente aparentando maturidade já pode escolher o que fazer, certo? Claro que não, porque enquanto estiverem sobre os cuidados dos pais ou familiares e não tiverem idade suficiente para se sustentar, devem dar satisfação sim aos que representam a lei. Mas o que mais me preocupa é a perda total de leis que regem a vida cotidiana dessa juventude. Por que quem rege ela já que os pais não estão presentes em seu papel? Os jovens buscam em seus amigos aqueles que parecem seus heróis e buscam neles um espelho de algo positivo, se identificam com suas alegrias ou algo negativo, as suas dores e assim, seguem seus passos.
Todos sabemos que o convívio familiar se restringiu a pouco contato em casa e poucas falas trocadas porque ninguém mais usa o olhar e a voz num mesmo ambiente com as pessoas que estão compartilhando do mesmo lugar. Parece que quem está no mesmo lugar não é quem se deseja e o jovem quer fugir dali e sempre quer se comunicar com quem está do lado de fora ou jogar algum jogo. Isso por si só demonstra uma péssima educação e falta de lei, falta de limite entre a hora em que se comunica com os que estão na casa e os que estão fora da casa, já pensou nisso?
Então, se você é pai ou mãe e se preocupa com a educação de seu filho e quer ser essa lei que indica o melhor caminho para que eles não cometam erros maiores do que simplesmente ficar no celular o tempo todo, estabeleça a hora certa para usar o celular. À mesa, não o deixe usar o celular enquanto vocês estão se alimentando e, principalmente, pratique o exemplo para ele: não use também o celular porque dar valor a alguém é também dar o exemplo.
Infelizmente, sabe o que está acontecendo? As pessoas se acostumaram com a desumanidade que é justamente não ser humano, não se comportar como humanos, como seres pensantes e capazes de atuar de uma melhor forma e estão assistindo no cotidiano ou estão fingindo que ela não existe, se fazendo de alienadas, mas essa desumanidade vai bater na minha, na sua, na nossa porta porque a desumanidade é uma violência que só aumenta e nos agride mesmo. A desumanidade é o que? É a falta de amor ao outro, é a falta até mesmo de dar a lei para que o outro saiba se ele está agindo de maneira correta ou não para si mesmo.
E nossos jovens? Jogados por aí? Mas por que me preocupo tanto com eles? Por que já fui, já assisti muitos se perderem, já vi muitos se darem bem na vida e sei que há caminho para tudo, mas só podemos ajuda-los a encontrar opções, se eles se esforçarem e nós também, porque nós podemos ajudar qualquer um que queira ser ajudado, seja da família, seja um conhecido, até um estranho.
O que me incomoda de fato é quando eu não vejo a vontade de atuar por parte dos pais. Como assim? Quem escolheu, optou por ser pai e mãe? Um tio, um vizinho? Parece que sim em alguns casos para a sorte de algumas crianças. Mas infelizmente, não podemos brincar de “ser” pais em fotos ou quando se quer. É um assunto de grande seriedade para a vida inteira e que requer da pessoa uma extrema dedicação, atenção e zelo pela vida do ser que foi gerado.
Então, já que o assunto é ordem, dar direcionamento e ensinar valores para crianças e jovens não se perderem por caminhos errados, pais, vamos olhar com cuidado para a conduta que vocês estão tomando e perceber o que tem dado certo e o que tem dado errado. Busque ajuda dentro de sua própria família, de profissionais de Saúde Mental em casos em que a criança e o jovem apresente algum caso de depressão, ansiedade, compulsão alimentar, compulsão por compras, dor crônica, insônia, crise de choro, se apresentar algum tipo de comportamento estranho como olhos vermelhos ou cheiro forte de cigarro, agitação, tique nervoso, enfim, algum tipo de comportamento diferente.
Não tenha vergonha de procurar ajuda. Cometer falhas é uma atitude muito comum na nossa vida, todos nós estamos propensos a isso. Então, não se culpe assim como não use de agressão em casos de descoberta de que seu filho saiu fora da conduta que você o ensinou.
Referências Bibliográficas:
Freud, Sigmund. (1913) “Totem e Tabu”.” Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud 13 (1980): 17-192.
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