A Mulher e o Feminino na Psicanálise
Descubra o que Freud e Lacan disseram a respeito desses temas e o meu ponto de vista
DE ACORDO COM FREUD
Você sabia que a mulher é um assunto muito complexo até mesmo para a Psicanálise? Sim, até Freud teve muita dificuldade para trabalhar com esse tema e ele se perguntou: O que quer uma mulher? Infelizmente, ele não achou uma resposta, apesar de ter começado seus trabalhos em Psicanálise com mulheres histéricas e uma delas ter perguntado a ele: O que é uma mulher? Pergunta que ele também não respondeu.
Freud começou seus estudos sobre a mulher estudando o desenvolvimento das crianças as agrupando em um caminho chamado o Complexo de Édipo masculino e o Complexo de Édipo feminino. Através deste estudo, Freud pôde afirmar que a mulher realmente se torna uma mulher quando ela vira mãe, isso porque Freud acreditava que a criança completa a existência da mulher, do seu feminino.
Ele chegou a essa conclusão a partir de um pensamento sobre o simbolismo que representa o poder do masculino, o falo, que não tem relação com uma parte do corpo, é apenas uma representação simbólica. Com isso, Freud afirmou que a mulher sente a inveja do falo do homem porque ela descobre na infância que não o possui e ao ser mãe, o filho preenche essa falta que ela sente por toda a sua vida.
SEGUNDO LACAN
Já o Psicanalista Lacan trouxe uma outra visão sobre as mulheres. Ele apontou a existência de mulheres fálicas que são mulheres com personalidade forte e determinadas em alcançar o que querem, o que não necessariamente está associado a se tornar mãe. Para Lacan, podemos perceber que certas pessoas são mais fálicas que outras e isso não é nem negativo nem positivo, são comportamentos que as mulheres têm porque isso faz parte de sua personalidade.
Além disso, ao comparar os homens e as mulheres, Lacan disse que é muito mais fácil fazer análise em homens porque eles se agrupam, enquanto cada mulher é única e deve ser analisada de acordo com as suas peculiaridades que a determinam como sujeito de sua própria vida.
Esta afirmação de Lacan tem muita relação com a frase de Simone de Beauvoir: “Ninguém nasce mulher, torna-se uma mulher.” Você entendeu o que a escritora quis dizer? A mulher não é um ser que nasce cheia de características próprias do feminino. Se olharmos bem dois bebês, um menino e outro menina, não vamos ver tantas diferenças físicas, além dos órgãos genitais. Não é verdade?
Com isso, culturalmente nos apropriamos do bebê menina para lhe dar o ar feminino, lhe enfeitando de cores que representam o feminino, colocamos adereços como brincos, arcos e faixas até o ponto em que esse próprio bebê cresce e escolhe por si só o que ela quer como adereço.
O FEMININO E ATUALIDADE
O interessante é perceber que a mulher pode demonstrar ser única e exprimir seu lado feminino como deseja, sem se prender ao que os outros um dia desejaram por ela. No entanto, o feminino não precisa ser visto como ofensivo aos olhos dos que não gostam de mulheres mais fálicas, que demonstram isso em sua maneira de se vestir e de se posicionar.
O feminino certamente ainda passa por repressões sejam elas religiosas ou culturais porque ainda existe um problema de aceitação grande com relação à exposição do corpo feminino e do pensamento das mulheres. Mas o que se pode fazer com essas mentes tão fechadas para a expressão física e mental do outro?
A solução está em educar as crianças, os jovens e adultos para entender que o que é do outro não nos compete e que devemos respeitar o corpo e o pensamento da mulher assim como devemos respeitar o que é do homem. Não se deve reprimir quem quer viver do seu jeito. Cada um (a) de nós merece ter a chance de viver bem consigo mesmo (a).
Como Psicanalista Lacaniana, não acredito que a mulher só se realiza através da maternidade. Há muitas expressividades do feminino e cada mulher é única que precisa se respeitar um ser desejante do que lhe interessa, não do que é de interesse dos outros.